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Sobre o Pânico – Tratamentos

Há algumas diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome do Pânico:

1 – Etapa Educativa: compreender o que é o Pânico, assumindo a atitude certa para lidar com a ansiedade e as crises.

Os sintomas do pânico são intoleráveis enquanto não compreendidos. A crise de pânico é um estado de intensa ansiedade, na qual o corpo da pessoa reage como se estivesse sob uma forte ameaça. Compreender este processo é fundamental para a sua superação. Nesta etapa vamos aprender o que é a ansiedade, o que ocorre numa crise de pânico, o papel do curto-circuito emoção-corpo-pensamento na manutenção do pânico, os processos de autoregulação, de regulação pelo vínculo, etc.

A compreensão do Transtorno Pânico e dos Princípios do Tratamento favorece uma atitude construtiva e participativa, assim como o estabelecimento de uma aliança terapêutica para se desenvolver um bom trabalho.

2 – Autogerenciamento: desenvolvendo a capacidade de regulação emocional.

A pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor capacidade de regulação emocional, aprendendo a influenciar seu estado emocional, regulando o nível de ansiedade, diminuindo assim o sentimento de vulnerabilidade e a incidência de novas crises.

Este processo é possível pelo aprendizado de técnicas de autogerenciamento. Utilizamos um amplo repertório de técnicas de autogerenciamento que incluem trabalhos respiratórios, técnicas de direcionamento da atenção, fortalecimento da capacidade de concentração.

Estas técnicas de autogerenciamento ensinam à pessoa como influir sobre os seus estados internos, desenvolvendo a capacidade de autoregulação.

Através do manejo voluntário dos padrões somático-emocionais que mantém o estado de pânico pré-organizado – a arquitetura da ansiedade – podemos reorganizar e transformar estes padrões que mantém o gatilho do pânico armado, pronto para disparar novas crises.

Estas técnicas têm uma forte eficácia ao influenciar, por ação reversa, os centros cerebrais que desencadeiam as respostas de pânico, diminuindo o nível de ansiedade e a intensidade das crises.

3 – Aumentar a tolerância à excitação interna.

A pessoa com pânico tende a interpretar as reações de seu corpo, que fazem parte do estado ansioso, como se fossem sinais catastróficos, indicadores de um possível perigo, como um desmaio, um ataque cardíaco iminente, sinal de perda de controle, etc. É necessário enfraquecer esta associação automática onde a presença de algumas sensações corporais dispara uma reação automática de ansiedade, a se inicia o processo que leva ao pânico.

Para ajudar no enfraquecimento desta associação corpo-perigo e aumentar a tolerância ao que é sentido, utilizamos dois caminhos básicos.

(1) Técnicas de desensibilização, onde utilizamos exercícios de exposição gradual às sensações corporais temidas, processo denominado “exposição interoceptiva”.

(2) Técnicas de auto-observação, com atenção dirigida às reações da ansiedade e criação de um diálogo com as mensagens emocionais não ouvidas que o corpo está expressando.

Estes recursos ajudam a aumentar a tolerância à excitação interna e na familiarização com as reações do corpo, as emoções e sentimentos. É importante a pessoa ensinar ao seu cérebro como as sensações corporais não são perigosas, e como a ansiedade é apenas uma emoção que expressa uma expectativa de perigo, mas não é perigosa em si.

4 – Desenvolver um “eu observador”, permitindo diferenciar-se dos pensamentos ansiosos.

Sob estado de ansiedade a pessoa é inundada de distorções cognitivas, com pensamentos que se projetam no futuro esperando pelo pior e interpretando as sensações em seu corpo como sinais de perigo iminente.

É importante trabalhar no desenvolvimento da capacidade de auto-observação identificando e diferenciando-se dos pensamentos catastróficos que derivam da ansiedade e contribuem para se criar mais ansiedade.

Neste processo a pessoa aprende a observar e reconhecer seus padrões de pensamentos e suas expectativas catastróficas sem ser dominada por eles. Aprende a ancorar o ego no “eu que observa” e não no tumultuoso “eu que pensa”.

É importante também desenvolver a capacidade focalizar a atenção como estratégia para se diminuir a ansiedade. Quando a pessoa consegue criar presença e focar sua atenção, a ansiedade diminui significativamente. Para atingir estes objetivos, utilizamos várias técnicas de auto-observação e fortalecimento da capacidade de direcionamento da atenção.

5 – Desenvolver a capacidade de regulação emocional através dos vínculos.

Além da capacidade de autoregulação é importante fortalecer a capacidade de se regular pelos vínculos, o que envolve desenvolver a capacidade de estabelecer e sustentar conexões profundas e vínculos de confiança. Este processo vai permitir que a pessoa supere o desamparo que a mantém vulnerável às crises de Pânico.

Neste processo revemos a história de vida de relacionamentos, incluindo os traumas emocionais que possam ter comprometido a confiança e potência vincular. Buscamos ajudar na reorganização dos padrões vinculares em direção a relações mais estáveis que possam permitir criar uma rede de vínculos e conexões mais previsíveis, essenciais para a proteção das crises de Pânico.

6 – Elaborar outros processos psicológicos atuantes.

É importante mapear os fatores que estavam presentes quando a Síndrome do Pânico começou e que podem ter contribuído para a eclosão das crises.

Neste contexto podem estar presentes ambientes e eventos estressantes, assim como crises existenciais, crises em relacionamentos, crises profissionais e transições, como mudanças de fases da vida, por exemplo. A desestabilização emocional trazida por estes eventos poderia produzir estados internos de fragilidade e vulnerabilidade, responsáveis pela eclosão das primeiras crises de pânico.

Num nível mais profundo buscamos investigar e trabalhar as memórias de experiências de vulnerabilidade e traumas que poderiam estar se reeditando nas experiências atuais de pânico. Do mesmo modo é importante rever os padrões de relacionamento com mãe/pai na infância, pois padrões ansiosos e ambivalentes de vínculo podem ter uma forte influência sobre o aparecimento e manutenção de transtornos de ansiedade na vida adulta.

Os melhores resultados são obtidos por um tratamento que contemple todos estes objetivos: a compreensão do processo do pânico, o desenvolvimento da capacidade de autoregulação, o aumento da tolerância à excitação interna, o desenvolvimento do eu que observa, o desenvolvimento da capacidade de regulação pelo vínculo e a elaboração dos processos de vida que levaram ao Pânico.

Uma combinação destes objetivos é a melhor solução para um tratamento eficaz da Síndrome do Pânico.

Fonte ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria

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